segunda-feira, 1 de julho de 2013

esopiana número 2



O velho sr tortoise resolveu visitar seu filho e seu neto.  não via o filha fazia um par de décadas. relações cortadas. o que fazer para ganhar as graças de um filho? extorquir o sentimento paterno do mesmo filho por meio de adulação do neto nunca visitado com seu trabalho. Sr . tortoise fizera as contas: o guri deveria ter uns 10 anos, então escreveu um livro infantil para o pirralho. Sim, sr, tortoise era escritor , e dos bons, diziam alguns maus leitores. fazendo isso tudo seria resolvido, ao menos é o que pensava. trazia o livro na mala: as aventuras da fada Plimplim.Já havia escrito pornografia para jornais universitários , mas o infantil era o primeiro.
chegou no aeroporto de noite. Ninguém o esperava, não avisou a ninguém (afinal, quem viria?).Resolvera beber,detestava aquela cidade, era preciso beber. foi a um bar próximo. doses demais na garganta e gastou os últimos centavos. não havia mais dinheiro para o táxi até a casa de seu filho. teria que ir andando e ...bem, lembrou que  era longe e alta madrugada. E lá foi subindo e descendo ladeiras escuras em busca do endereço, mortificado não propriamente de medo, não pelos assaltos, nem pelos sequestros, mas pelo ridículo de morrer segurando um livro chamado as aventuras da fada PlimPlim. Pior, pensou o decrépito Tortoise, seria sua última obra: que vergonha!fada Plimplim! um livro que fez para subornar o afeto do neto para subsequente perdão do filho. E os assaltantes o que achariam ? ririam dele .Porém ruim seria se levassem o livro, só tinha aquele manuscrito na mala: seria adeus para a redenção familiar. Suas últimas palavras para os assaltantes? só lembrava da história que escreveu e decorou para o neto que começava com : era uma vez uma fada chamada plimplim.Passava uma prostituta e pensou :"se fosse antigamente poderia ganhar um beijo de fim de noite mesmo bêbado com um poema bonito" mas à mente só vinha  a fada PlimPlim.  isso atormentava seus miolos: o ridículo e não a morte.
Se aproximava da casa do filho. todo a névoa da vergonha de um livro tão ruim que havia em mãos passava. bateu no portão. o filho acordou e apesar de não ver o velho a um par de tempo, não podia deixá-lo na sarjeta. acolheu o coroa. Sr tortoise oportunamente bêbado caiu no sofá.
Dia seguinte.
 Dia de enfrentar a fera filial com o seguinte julgamento em pauta: o esquecimento de anos e o reencontro nada positivo  de bebedeira paterna.Acordado de ressaca...O que fazer assim de supetão? discursas, negociar, persuadir pelo amor. Arrependimento e lágrimas; velha cena de novela. tudo perfeito agora , feito as pazes.Nessa conversa à queima roupa o livro não é lembrado como bargannha do perdão por sr, tortoise. Lembra-se então de gabar-se da lembrança ao neto ao filho amado. Mas, um triste surpresa para tortoise : o guri não havia 10, mas 15 anos, contas erradas do vovô relapso. Época de masturbação,sexo e espinhas à flor da pele no netinho. O que fazer com aquela porcaria que de nada serviu ao seu propósito? reinventá-la para o neto. 
bem, eis a solução: Contar a história de como conseguiu ganhar uma prostituta, enganar ladrões e beber como um louco com um calhamaço de história infantil. Tudo o que um adolescente  quer ouvir.: sexo, drogas e perigo. tudo mentira, bem sabemos. tortoise era um cagão medroso e manipulador, mas conseguiria o amor de sua família criando histórias em 5 minutos de sua mente adubada por merda de folhetim diário. 
tudo estava bem de novo. a despeito de sua lentidão de corpo, medo e pavores tortoise fazia sua lábia. quem o visse diria até que em seu vigor de balbuciar mentiras rejuvenescia seu cabelos brancos, que voltava uma tonalidade ruiva avermelhada antiga perdida na sua cabeça. mr tortoise devia se chamar esopo, ou ao menos uma raposa das suas fábulas.