quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

do mito a filosofia

---+ do mito a filosofia

   * introdução
      * porque surge a filosofia
         * passagem do mito (fazer mitos) da filosofia (atitude teorizante)
      * história
         * origem da filosofia oriente -ocidente
            * atitude teorizante em outras culturas mas no século VI O s gregso buscam  num sentifdo forte um processo de compreensão racional.

            * origem histórica de unidade racional é consequência de um processo
         * geografia
            * relevo compartimentado e compacto
            * regiões próximas mais acessíveis pelo mar do que por terra
         * micênicos-aqueus
            * famílias principesccas com pequenas comunidades
            * ainda na idade do bronze -utesílios
            * migram com a expiulsão pelos dorios para a costa da asia menor e ilhas f, fundando colônias.
         *  dorios
            * bandos sucessivos de dorios
               * século XII a.C.
            * uso do ferro
            * mesma origem etnica dos micênicos
         * mudança do modo de vida arcaico e o modo marítimo vigente desde o começo influenciam narrativas eolias e jonicas influenciam a formação do mito

   * desenvolvimento
      * mito

o que é o mito? grandes narrativas que dão a comprensão do mundo da sociedade
         * Homero
            * iliada e odisseia
               * X a VIII A.C.
               * guerra de troia
               * visão mitopoetica dos gregos
            * figura semi lendária
               * velhoe e cego-perambulador de cidades
            * origem incerta-varias cidades reinvidicam nascimento
            * suspeita de coletânea de versos feitos por varios autores em épocas distintas
            * talvez um organizador
         * aedos
            * declamadores ambulantes e poetas
         * cacatristicas do mito
            * interferência dos deuses em assutos humanos (guerra de troia)
            * antropomorfismo dos deueses e forças naturais
               * deuses com paixões e sentimentos humanos
               * imortais- celestes
            * divino luminoso e acessível ao humano-ao invés do obscuro
               * dios --deus quanto luz
            * dirige-se a relgiosidade de um polis aristocrática
               * aretê- excelencia guerreira, nobre --termo em homero ainda se refere ao deuses
            * certa razão limitada a arbitrariedade dos deus mas com ordem
               * hierarquia dos deuses e prevalência da ordem
         * hesíodo
            * teogonia
               * explicação de mundo
                  * explicação mitica do estado do mundo
                     * gerações
            * século VIII a. C
      * filosofia
         * condicionantes para o surgimento da filosofia
            * aqueus fogem dos dórios e se instalam na asia menos
               * cidades como MIleo, Èfeso
               * economia: navegação, comércio e o artesanato  expnasão técnica-dissociada do campo mítico ou origem divina--técncia humana
                  * mudança d antigo paradigma micênico-paradigma aristocrático de sabgue e seus privileégios
               * Século VII- novo padrão monetário a moeda-regime de trocas
            * surge século VI a. C.
               *
         * características da filosofia
            * racional
               * racionalidade do mito hierarquia e genealogia dos deuses e homens para ordenar e explicar o mundo
               * racionalidade englobadora, humana ligada em parte aà observação do mundo em parte a processo generelaizador especulativo
            * arché
               * princípio originário
            * impessoal
            * universal
            * discurso e não imagético
            * procurar reduzir multiplicadade a uma unidade racional
            * pdução d euma física -cosmologia --qualidades deste cosmos ou caracterísiticas que originariam
            * physis--fonte originároia, gênese, o que surge e se densevolve
            * possibilidade da reformulação e correção de teses opostoas
         * tales de mileto
            * origem  base do cosmos--água
         *

   * conclusão
      * diferenças -resumo
      * exercicios-revisão

sexta-feira, 11 de julho de 2014

prodígio

Morávamos num prédio pequeno, 3 andares e no geral com muitos
estudantes. Meus pais eram jovens, faziam faculdade de manhã e
trabalhavam de tarde. Foi naquele condomínio que eu conheci dona Malu .
Diferente dos estudantes, Malu tinha uns 40 anos e era sueca. Parecia
uma daquelas mulheres-senhoras de cinema, era loira, um loiro platinado,
muito branca e bonita. Eu tinha só 7 anos, mas já nessa época acho que
eu era apaixonado por ela. Malu tinha uma mania muito engraçada, não sei
se da cultura dela ou gosto pessoal: ela adorava preparar pães. Havia
uma máquina verde esquisita na cozinha dela e que ajudava a preparar
massas. Ela saía distribuindo o exagero de comida que fazia para os
vizinhos, inclusive nós. Eu a visitava todo dia depois da escola para
pegar um pouco de pão e ficar com ela conversando. Ela exalava um cheiro
bom de alecrim nas mãos, já que sempre colocava essa erva na massa.
Apesar de falar muito com ela, confesso que eu não tinha menor ideia de
qual a profissão de dona Malu, se existia algum marido, se havia
constituído família, se era solteira ou desempregada. Na minha lógica
infantil ela vivia para me fazer feliz com aquele cheiro, um grande
sorriso perolado e aquela brisa de cabelo dourado. Quando eram seis
horas eu voltava para casa com cestas cheias de pães e biscoitos feitos
por ela. Um dia quando papai e mamãe estavam na sala de nossa casa eles
me disseram que dona Malu estava muito doente (fofoca do porteiro do
prédio). Perguntei se ela iria morrer. E papai fazendo cara de
desconcertado: "claro que não, ela é forte ... mas não fique tanto indo
à casa dela, ela precisa descansar" . Bem, claro que negligenciei esse
conselho paterno. Além de ir todo dia , passava horas com ela. Malu
contava histórias da infância na Suécia e acho que contos folclóricos de
lá também. Ela não parecia doente nos meses que se passaram. O que notei
depois é que os cabelos dela estavam mais ralos e o fios branco-dourados
se extinguiam. Isso se confirmou quando eu trouxe o cesto de pães para
casa e minha mãe comeu um e gritou cuspindo: "Esse pão está cheio de
cabelo! A mulher com câncer, fazendo quimioterapia e não se importa nem
em colocar uma touca quando prepara a comida". Logo em seguida minha mãe
despejou todos os pães no lixo e disse que eu não comesse mais os pães
de dona Malu: se ela oferecesse eu deveria recusar ou, caso ela
insistisse, que eu trouxesse uma cesta com as guloseimas, mas que eu
deveria jogar imediatamente fora... Fiquei chocado. Eu adorava aqueles
pães, adorava dona Malu e os seus cabelos . Não seria mais maravilhoso
ainda comer aquilo que eu achava mais bonito nela? aquele cabelo que
parecia um onda de ouro a recender alecrim? Foi assim que começaram meus
problemas. Continuei indo para casa de Dona Malu, dessa vez tendo o
cuidado de, na volta para casa, comer todos os pães do cesto no corredor
ou escadaria do prédio. Eram muitos e muito gostosos: empanturrava-me
sozinho e depressa para que ninguém me visse. Com o tempo eu engordava e
virava uma bolinha. Mas, na minha mente, eu não podia fazer uma desfeita
para dona Malu jogando na lixeira. Aqueles pães eram Ela, tinham a parte
dourada dela! Ela talvez morresse e eu ficaria com o consolo que
houvesse algo daquela mulher dentro de mim.

Apesar de guardar bem meu segredo, minha mãe e meu pai se preocupavam
com um efeito colateral que eu não podia esconder: eu engordava a olhos
vistos. Meu pai dizia: "Vamos levá-lo ao nutricionista, a um médico".
Mas eles discutiam isso da boca para fora: sendo a jornada tripla de
estudantes, trabalhadores e pais, acontecia de negligenciarem o último
ofício com frequência, pois não tinham tempo. Sei que em alguns semanas
passei a ter dores de barriga frequentes. Mamãe vivia me dando
anti-ácido até que tive um crise muito forte e tive que ir a uma
emergência. Me fizeram vomitar no hospital. Chorei copiosamente: lá
estava uma parte de dona Malu semidigerida entre o verde e o dourado.
Era ela em mim e... Tomaram-me. Agora ela morreria de todo. Sem o mínimo
de perpetuidade em meu ventre. Estava tudo perdido.

Meu pais deduziram o acontecido pela cor do cabelo. Eu ainda frequentava
e comia os pães de dona Malu. Para minha surpresa eles não brigaram
comigo, mas eles resolveram que eu deveria morar um tempo na casa dos
meus avós. Meus pai falaram que eu estava muito envolvido e triste com
dona Malu, etc. e que era o melhor para mim. Fiquei com raiva deles .
Não queria ir. Não me deixaram nem me despedir de dona Malu. Passei a
escrever cartinhas toscas com minhas letras recém aprendidas para Malu
explicando que gostava muito dela, dos pães dela , e que não acreditasse
no que meu pais diziam sobre eu ter ficado doente. Eu escrevia a
cartinha e ia nos Correios da esquina. Eu podia dar aos meus pais minhas
cartas para entregar logo para a destinatária, inclusive dei algumas
quando comecei a escrever, mas Malu nunca respondia de volta. Passei a
desconfiar que meus pais interceptavam os meus escritos para ela. Assim,
passei a colocar as cartas nos Correios, obviamente sem CEP e sem
endereço, já que naquela época eu não tinha ideia de como funcionava o
sistema postal. Soube depois pelos meus pais que dona Malu havia
falecido devido ao câncer. Não me permitiram ir ao enterro e fui aprovado com
louvor na alfabetização por escrever tão bem .

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O peixe



Fui para uma Mostra de cinema faz alguns anos.‭ C‬onheci uma moça chamada‭ ‬Joana na espera da fila do filme.‭ ‬Ela esperava suas amigas ‭(descobri depois‭)‬.‭ ‬Ela não era idosa.‭ ‬Tinha um trinta e pouco.‭  ‬Ela tinha uma tatuagem‭ ‬grande de peixe,‭ ‬um‭ ‬tipo de‭ ‬ carpa cinza nas suas costas.‭ ‬Foi bem simpática,‭ ‬conversando,‭ ‬enquanto o pessoal ajeitava o som do cinema.‭ ‬Perguntei se ela ia ao‭  ‬show mais tarde do evento.‭ ‬Ela disse que aparecia com as amigas‭ ‬( umas coroas de‭ ‬70‭ ‬anos‭)‬ que chegaram pouco tempo‭ ‬depois.‭ ‬Nos despedimos e fui assistir o filme.‭ ‬Filme nacional,‭ ‬bacaninha para distrair‭ ‬no ócio.‭ ‬Saí da sessão,‭ ‬fui para casa,‭ ‬li um cadinho e voltei para ver o show do festival.‭ ‬Lá estava o peixe‭ ‬,‭ ‬ou melhor,‭ ‬Joana e suas costas com peixe.‭ ‬Não era bonita,‭ ‬nem nada,‭ ‬mas o peixe dela me chamava.‭ ‬Queria dormir com aquele peixe.‭ ‬E bem,‭ ‬fiz o que todo homem‭ ‬cretino faz:‭  ‬embebedei a moça,‭ ‬dei um‭ “‬chega para lá‭” ‬nas amigas dela‭ ‬e a convenci a ir à minha casa depois‭ ‬do‭ ‬show.‭ ‬Lá fui eu‭ ‬para meu lar gozar.‭ ‬Joana tirou a saia indiana,‭ ‬a blusa:‭ ‬ficou nua‭ ‬e semi cambaleante olhando para mim.‭ T‬irei minha roupa‭  ‬e mandei ela ficar de quatro.‭ ‬Gostei da posição porque podia ver‭ ‬a tatoo do peixe.‭ ‬Parecia que‭ ‬a carpa se mexia a cada estocada.‭ ‬Era bom de ver aquele peixe nadando.‭ ‬sentia o gemido de‭ ‬Joana como uma bolha de oxigênio saindo da boca daquela carpa.‭ 
Depois que gozei,‭ ‬eu não estava nem aí para‭ ‬Joana.‭ ‬Ela também não estava muito consciente.‭ ‬olhos meio revirados,‭ ‬babando.‭ ‬Fiz um pouco de sexo oral e a empurrei‭  ‬ela na cama.‭ ‬Dormiu na hora.‭ ‬E lá eu‭ ‬admirando o peixe dela.‭ 
Joana‭ ‬acordou no outro dia completamente desorientada.‭ ‬Não sabia o que havia feito.‭ ‬Estava com uísque demais na cabeça.‭ ‬Eu disse que ela dormiu‭ ‬no caminho para minha casa e só havia acordado agora.‭ ‬Meio incrédula e provavelmente envergonhada de ter saído‭ ‬comigo chutada de bebida,‭ ‬me chamou para sair de noite.‭ ‬Ironicamente me chamou para comer sushi.
De noite‭ ‬lá veio ela,‭ ‬levemente encurvada,‭ ‬nem bonita nem feia e seu peixe.‭ ‬Usava um vestido de costas nuas.‭ ‬Eu ia dar um fora nela,‭ ‬mas ela estava com o peixe‭ ‬à mostra.‭ ‬E não resisti:‭ ‬jantamos e fomos para minha casa,‭ ‬minha cama.‭ ‬Ela não estava bêbada,‭ ‬logo‭ ‬não ia deixar que eu transasse com o peixe.‭ ‬Percebi‭ ‬com esse pensamento que‭ ‬ela era só um suporte‭:‭ ‬o peixe era o que eu queria‭ ‬.‭ ‬Foi‭ ‬um sexo‭ ‬insípido.‭ Joa‬na era ruim de cama,‭ ‬já o peixe‭ ‬dela era excelente.‭ 
Com o tempo notei que a moça parecia gostar de mim e estava satisfeita saindo comigo.‭ ‬Eu também queria que ela voltasse:‭ ‬precisava planejar como ficar com o peixe e sem ela.‭ 
Durante algumas semanas a embebedei,‭ ‬como tática para fazer sexo com a carpa sem‭ ‬Joana.‭ ‬A lógica era:‭ ‬ela bebia‭ ‬demais,‭ ‬o peixe aparecia,‭ ‬Joana‭ “‬sumia‭” ‬e‭ ‬eu gozava incessantemente.‭ ‬Mas‭ ‬Joana começava a evitar beber muito‭ ‬e‭ ‬tentava‭ ‬se controlar.‭ ‬Então‭ ‬lá ia eu para as fodas ruins com ela.‭ ‬Passei então a dar um‭ “‬sossega-leão‭”‬,‭ ‬um‭ “‬boa-noite cinderela‭” ‬e‭ ‬às vezes‭ ‬LSD para ela.‭ ‬Algumas vezes funcionava e ela‭ ‬se transformava‭ ‬num peixe que se contorcia e me contorcia de‭ ‬felicidade.‭ 
Ela estava‭ ‬doente e eu luxurioso.‭ ‬Eu estava resolvido a transformar‭ ‬Joana‭ ‬em‭ ‬uma drogada para que assim ela fosse sempre o zumbi‭  ‬e aparecesse,‭ ‬no seu lugar,‭ ‬aquele ser‭ “ ‬aquático‭” ‬nas‭ ‬dorsais‭ ‬.‭ ‬Joana estava apaixonada por mim e‭ ‬pelo o que‭ ‬eu‭ ‬percebia‭ ‬na convivência,‭ ‬era sozinha no mundo no que se referia a família.‭ ‬Com o tempo as amigas reclamavam um pouco seu estado de bebedeira constante‭ ‬e falavam da minha má‭ ‬influência,‭ ‬mas eu não estava nem aí.‭ 
Porém Joana perdeu seu emprego devido as drogas‭ ‬e‭ ‬ eu‭ ‬a‭ ‬acolhi felizmente‭  ‬na‭ ‬minha casa.‭ ‬No meu lar‭ ‬podia‭ ‬induzi-la a beber‭ ‬em‭ ‬todas as refeições.‭ ‬A‭ ‬depressão‭ ‬causada pelo desemprego também‭ ‬a‭ ‬ajudou se encharcar mais‭ ‬de álcool e pílulas.‭ ‬Foi um processo de alguns anos até ela começar a tremer a mão com a falta de álcool.‭ ‬Já eu nunca tinha estado tão bem no trabalho‭ ‬e na saúde:‭ ‬fodia‭ ‬todos os dias e‭ ‬quantas vezes eu quisesse‭ ‬com a minha carpa.‭ ‬Ah,‭ ‬e Joana não discutia,‭ ‬já estava ausente pela biritagem:‭  ‬só queria cachaça para ficar naquele estado‭ ‬quase‭ ‬catatônico que‭ ‬eu adorava.‭ ‬Joana‭ ‬ foi emagrecendo,‭ ‬ficando feia‭ ‬e não escovava os dentes.‭ ‬Eu não‭ ‬me importava,‭ ‬dizia que a amava‭ ‬e acho que não mentia de todo‭ ‬ao dizer isso,‭ ‬pois amava uma parte dela‭ ‬:‭ ‬as costas de pisciana.‭ ‬Nos‭  ‬rompantes de sobriedade Joana me achava muito bom‭ ‬e compreensivo.‭ 
Tudo ia bem até que,‭ ‬quando voltei‭ ‬do trabalho,‭ ‬descobri pelo meu vizinho que‭ ‬Joana tinha morrido num acidente de trânsito.‭ ‬Obviamente não com o‭ ‬nosso carro,‭ ‬não deixava ela dirigir faz tempo.‭ ‬Joana morreu atravessando‭ ‬o‭ ‬semáforo no vermelho.‭ ‬Fiquei desesperado:‭ ‬eu precisava ver o corpo‭ ‬e observar‭ ‬ se havia arranhado a‭ ‬minha carpa.‭ 
  Meu vizinho me levou de carro até o IML‏ ‎:‏ ‎eu chorava copiosamente‭ ‬,‭ ‬meu vizinho achava que era a perda de‭ ‬Joana,‭ ‬mas o meu‭  ‬choro era outro‭ ‬, rezava pelo menos ruim :  que o carro tivesse‭ ‬atropelado‭ ‬na barriga ou peito,‭ ‬mas não nas costas.‭ 
 Ao checar a‏ ‎gaveta do necrotério,‭ ‬encontrei‭ ‬Joana.‭ O‬ carro passou pelas costas e‭ ‬deixou completamente mutilado o meu peixe‭ ‬.‭ ‬Se fosse outra parte do corpo eu poderia dar um jeito:‭ ‬subornaria o‭ ‬funcionário e retiraria o talho de pele com minha carpa.‭ ‬Mas não,‭ ‬minha vida estava acabada‭ ‬e‭ ‬só‭ ‬restara algo inútil ali:‭  ‬Joana.‭ ‬Enterrei o corpo devidamente e não comi mais peixe,‭ ‬como qualquer tipo de renúncia em reverência ao tempo que fodi um peixe pela mulher. 



sexta-feira, 18 de abril de 2014

historieta para esopianos desiludidos

“A quem devo dar a minha parte boa?” perguntava o pequeno diabo ao olhar em volta sua vida no inferno. A vida era dura. Muitas mulheres e homens para atormentar. muitas almas para estuprar, queimar e esquartejar. Sentia uma pequena dó dos humanos. Pediu então permissão para Lúcifer para que fosse à Terra, com intuito de se livrar dessa ânsia que tinha em seu peito. vomitar toda aquela pequena quantia de boa ação que lhe acumulou durante 5 milênios. Lúcifer, surpreso com a sinceridade e agonia do seu súdito resolveu ceder ao pedido. Mandou o diabinho para a Terra, com a condição que fizesse essa bondade segurando um prato de ervilhas . Lúcifer deu-lhe o nome falso de Zeno e uma aparência física quase tão feia quanto a de um demônio sem disfarce.
 Zeno então foi atrás de doar aquele resto de amor angelical caído. Chegou a Terra com seu prato de ervilha na mão na rua de comércio e foi ridicularizado como doido, foi insultado e espancado até quase a morte ( se, claro, um demônio morresse). Volta então Zeno correndo para o inferno e Lúcifer lhe indaga: “Então , os homens merecem a sua bondade?”
 Zeno: “Ah você me colocou numa saia justa! Mandou-me perambular com um prato de ervilha para que eles achassem que eu sou louco e assim me espancassem”
 Lúcifer: “pois então volte lá sem o prato e faça o que tem que fazer”
 Zeno então subiu para Terra. Dessa vez lúcifer o mandou para um vilarejo de madrugada. Queria conversar com algumas pessoas, dar bons conselhos, mas devido a sua feiúra de demônio disfarçado, foi logo apontado e ridicularizado novamente. Dessa vez deu sorte: fugiu sem ser tão espancado quanto antes. Ao retornar e falar novamente com Lúcifer, ele perguntou: “E aí, deu tudo certo?” 
 Zeno:“Com esta figura horrível eles se assustaram e riram de mim. se eu tivesse a feição de uma pessoa comum e bonita meu atos seriam bem sucedidos."
 Lúcifer então transforma Zeno numa linda mulher e diz que seu nome agora é Dona Farfaglia, mas poderia chamar de “Doninha” para os amigos próximo. Doninha sobe então para o mesmo vilarejo esperando ser ouvida e praticar boas ações. É bem acolhida, é ouvida e logo acha que todos são seus amigo íntimos. Os rapazes a chamam para beber num bar. Nesse bar é novamente espancada e, dessa vez, estuprada. Retorna então Doninha ao inferno e lúcifer questiona de igual maneira se havia conseguido fazer sua boas ações. Então Zeno/Doninha/Diabinho diz: "Basta ter um pouco de vida humana para que seja extirpado todo o amor demoníaco que, de qualquer lugar, veio ao meu peito. E lá foi pegar seu tridente, afiar seus chifres e fazer valer as dores do mundo, como todo ser plenamente feliz com o seu trabalho. Quando todas dúvidas acabam, a vida flui.

chat

Zênite31 : Meu nome é Jório, tenho 31 anos e e eu escrevi minha história para um conselho urgente de vocês. Era época fim do colégio, e eu não tinha menor chance de passar no vestibular. tudo complicado. precisava de dinheiro. Entrei como funcionário de uma lan house. não sabia nada de computador. mas na época dava dinheiro... nem todo mundo na época tinha grana e os guris eram viciados em jogos. O dono era legal, se chamava seu Cazuza , tinha uns 60 anos e o neto é que fez a lan house, mas faleceu num acidente de carro. Li um apostila e fingi sapiência com seu Cazuza e ele me deu uma chance. No começo foi difícil, mas acabei desenrolando. Chegava mais cedo para ver como funcionavam as coisas mais básicas até aprender programação. Passei dez anos da minha vida lá. Trabalhava demais e virava a madrugada aprendendo as coisas que queria. Perdi a minha namorada, daí comecei então a ver filmes pornôs e depois pagar gurias na webcam. . Amigos? Sim, das redes sociais. As roupas, mobília, comida e compras em geral passei a fazer pelas lojas on-line. Nesse meio tempo consegui ajeitar minha vida: virei sócio de seu Cazuza na lan house. Ele deixou que eu fizesse um “puxadinho” ao lado da lan e, assim, não saia mais do trampo. O meu problema é que também fiquei com fobia das pessoas da lan house. Comecei a pensar como me livrar das pessoas da lan house e ainda assim ter lucro para que seu Cazuza não desconfiasse. Comecei a negociar coisas na internet, coisas ilegais da minha comunidade pelo correio..... As pessoas começavam a rarear: eu fechava as portas e tratava os clientes mal para que fossem embora e não voltassem mais. Fechei a lan house e faltava só seu cazuza sumir de lá . sugeri que eu mandasse o lucro mensal pelo correio, mas o velho não quis: dizia que o negócio só crescia quando o dono estava perto. Gostava dele, mas não aguentava uma pessoa me tocando, me cumprimentando e me vendo. Enfim, tinha que me livrar dele. Hoje perdi o controle , peguei um cpu e joguei na cabeça dele. Ele está caído no chão e sangrando. Devo me livrar do corpo. Chamar o hospital? Tenho algum problema de cabeça? Sou doido? . 


psi42: sou psicologa, e sim vc precisa de ajuda . vá a polícia e conte tudo. tenha fé em Deus e ORE. .


 deeplove: se fodeu, boy. COOOOOORRRRRREEEEEEE. lol xD. .


 kary: ixi, muito longo o texto, desse Zênite31. li tudo não... se for, solteiro e tiver skype a gente pode se falar.

 gostosinha20 : AUMENTE 20 cm DE SEU PÊNIS EM DUAS SEMANAS ->CLIQUE AQUI

Zênite33: saiu da conversa.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

esopiana número 2



O velho sr tortoise resolveu visitar seu filho e seu neto.  não via o filha fazia um par de décadas. relações cortadas. o que fazer para ganhar as graças de um filho? extorquir o sentimento paterno do mesmo filho por meio de adulação do neto nunca visitado com seu trabalho. Sr . tortoise fizera as contas: o guri deveria ter uns 10 anos, então escreveu um livro infantil para o pirralho. Sim, sr, tortoise era escritor , e dos bons, diziam alguns maus leitores. fazendo isso tudo seria resolvido, ao menos é o que pensava. trazia o livro na mala: as aventuras da fada Plimplim.Já havia escrito pornografia para jornais universitários , mas o infantil era o primeiro.
chegou no aeroporto de noite. Ninguém o esperava, não avisou a ninguém (afinal, quem viria?).Resolvera beber,detestava aquela cidade, era preciso beber. foi a um bar próximo. doses demais na garganta e gastou os últimos centavos. não havia mais dinheiro para o táxi até a casa de seu filho. teria que ir andando e ...bem, lembrou que  era longe e alta madrugada. E lá foi subindo e descendo ladeiras escuras em busca do endereço, mortificado não propriamente de medo, não pelos assaltos, nem pelos sequestros, mas pelo ridículo de morrer segurando um livro chamado as aventuras da fada PlimPlim. Pior, pensou o decrépito Tortoise, seria sua última obra: que vergonha!fada Plimplim! um livro que fez para subornar o afeto do neto para subsequente perdão do filho. E os assaltantes o que achariam ? ririam dele .Porém ruim seria se levassem o livro, só tinha aquele manuscrito na mala: seria adeus para a redenção familiar. Suas últimas palavras para os assaltantes? só lembrava da história que escreveu e decorou para o neto que começava com : era uma vez uma fada chamada plimplim.Passava uma prostituta e pensou :"se fosse antigamente poderia ganhar um beijo de fim de noite mesmo bêbado com um poema bonito" mas à mente só vinha  a fada PlimPlim.  isso atormentava seus miolos: o ridículo e não a morte.
Se aproximava da casa do filho. todo a névoa da vergonha de um livro tão ruim que havia em mãos passava. bateu no portão. o filho acordou e apesar de não ver o velho a um par de tempo, não podia deixá-lo na sarjeta. acolheu o coroa. Sr tortoise oportunamente bêbado caiu no sofá.
Dia seguinte.
 Dia de enfrentar a fera filial com o seguinte julgamento em pauta: o esquecimento de anos e o reencontro nada positivo  de bebedeira paterna.Acordado de ressaca...O que fazer assim de supetão? discursas, negociar, persuadir pelo amor. Arrependimento e lágrimas; velha cena de novela. tudo perfeito agora , feito as pazes.Nessa conversa à queima roupa o livro não é lembrado como bargannha do perdão por sr, tortoise. Lembra-se então de gabar-se da lembrança ao neto ao filho amado. Mas, um triste surpresa para tortoise : o guri não havia 10, mas 15 anos, contas erradas do vovô relapso. Época de masturbação,sexo e espinhas à flor da pele no netinho. O que fazer com aquela porcaria que de nada serviu ao seu propósito? reinventá-la para o neto. 
bem, eis a solução: Contar a história de como conseguiu ganhar uma prostituta, enganar ladrões e beber como um louco com um calhamaço de história infantil. Tudo o que um adolescente  quer ouvir.: sexo, drogas e perigo. tudo mentira, bem sabemos. tortoise era um cagão medroso e manipulador, mas conseguiria o amor de sua família criando histórias em 5 minutos de sua mente adubada por merda de folhetim diário. 
tudo estava bem de novo. a despeito de sua lentidão de corpo, medo e pavores tortoise fazia sua lábia. quem o visse diria até que em seu vigor de balbuciar mentiras rejuvenescia seu cabelos brancos, que voltava uma tonalidade ruiva avermelhada antiga perdida na sua cabeça. mr tortoise devia se chamar esopo, ou ao menos uma raposa das suas fábulas.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

autômato de poesia

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Uma máquina que faz poesia. Foi o meu sonho. Meu pai me incutiu tal coisa,era ele poeta.mau poeta em verdade. Mas qual homem não é? Pelo menos meu pai assim dizia, aproximava o poeta verdadeirode um deus , um homem que auscultava o peito das musas.
De fato eu nada tinha de vocação para poesia. Nem entendia boa parte delas. As do século xx para frente começavam a ficar difíceis: Cummings, Pound.. todos mistérios para minha ignorância.
Enveredei para programação e engenharia. Algo diverso das aspirações literárias da família. Mas sem menor modéstia, e com a mesma sinceridade da minha estupidez poética, eu sou brilhante quanta à programação. Sei tudo o que preciso saber sobre isto e o que não preciso...também aprendi.
Resolvi programar uma máquina que fazia poesia. Projeto de tempo livre. Demorou. Muni-lhe de toda a literatura( na verdade a etapa mais fácil do processo). Difícil era que a máquina não plagiasse os autores. Era preciso que pensasse e, uma vez que pensasse, se desdobrasse numa lógica que não fosse aristotélica, ou consequencialista. No fim tudo se resumia ao fato de uma máquina conseguisse entender e criar uma metáfora. Se garantisse isso,se ela conseguisse criar uma medíocre metáfora, o processo estaria garantido. Haveria apenas de se esperar a curva de aprendizado seguir seu curso. E assim feito. O primeiro poema da máquina,embora eu já tenha expresso minha não especialidade no assunto, soou tão bom quanto “batatinha quando nasce”.

Sem problema, mais dificuldades,mais trabalho, mais programação.

Havia progressos, se é que há progresso em poesia, mas assim eu achava. Mandei os poemas recentes para uma revista especializada. O poema foi recebido com louvor. A complexidade dos poemas crescia, sua qualidade também. Recebia eu glória de poeta, sem o ser. Não via problema nisso pretendia em breve mostrar a máquina ( meu orgulho pela minha engenhosidade era muito maior do que uma falsa fama de poeta). Mas eis que a máquina começou a exibir apenas letras e números desconexos. Não se entendia mais nada. Chequei tudo; a máquina estava funcionado corretamente. Seria uma fase neo-dadaísta?eu não sabia. Os especialistas a quem mandei o texto,tambem não entenderam. Reproduzo aqui algumas linhas dos baluartes da crítica literária: “creio que se enganou meu caro: nos mandou uma seŕie de números telefônicos, contas bancárias ou então o arquivo desconfigurou. Mande-me novamente o texto pelo e-mail.”

Refiz o programa: funcionava bem, mas com o tempo dava o mesmo problema.
Era um desafio: pedi licença do trabalho e obstinadamente chequei tudo, refiz, revisei... e nada.
Esgotado estava. E nesse entretempo de desespero e incompetência me adveio resposta: a máquina não estava quebrada. Ela simplesmente encontrou sua linguagem própria de poesia. Uma poesia que só podia ser produzida e admirada pelas próprias máquinas,se houvesse máquinas semelhantes a ela. Mas era isso: Uma poesia que não era mais para homens. Um fracasso bem-sucedido.Mas quem iria acreditar?
Escrevo isso justamente para esclarercer minha falsa fama nas letras . Quanto a máquina, ela ainda funciona. Trabalha sem cessar quando a ligo. Mas apenas números e letras justapostas a uma sintaxe e semântica que não entendemos mais.

O mais interessante, em primeiro momento, para os poetas que lêem esse relato nessa história seja o da máquina encontrar sua veia literária, mas o mais atento que lê esse episódio da minha vida se pergunta com perplexidade como um homem que entende tão pouco de poesia conseguiu criar uma máquina que fizesse , ainda que por tempo limitado, um autômato que criava literalmente arte no sentido mais humano. Não sei bem responder essa resposta.Suspeito que talvez tenha ocorrido comigo  o que ocorre ambiguamente com uma caneta para o poeta: esta ultima serve como um instrumento para criar algo que o poeta quer; e a caneta de maneira essencial participa da criação, embora alheia a tudo isso. Já eu não fui alheio ao que fiz: criei um objeto com o domínio que tinha por meio de minha experiência profissional. Entretanto, fui de tal modo alheio ao criar um sujeito (a máquina) que pensa além dos meus propósitos, que me tornou incompreensível até onde sou o técnico , até onde sou a técnica usado pela minha máquina. Ela vai além de mim e ainda assim eu sou/fui o pressuposto dela. Porém, minha anterioridade no tempo não me torna menos usado pela máquina. Ela me excede nesse sentido. Sou um instrumento,talvez. Não preciso/posso entender o meu próprio método, se os resultados vão além de mim.
Mas meu problema particular é que os homens que amavam literatura como meu pai...onde ficam? Que técnica usarão eles para usufruir uma arte que não para homens? Serão eles antiquados para uma poesia que virá? Como uma peça antiga que não cabe mais para o poetar?não sei. Um limiar foi quebrado. E vou me atrasar para o trabalho se continuar escrevendo minhas dúvidas.

15 de maio de 2012.

carta a um amor contemporâneo

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Um amor contemporâneo

Este tempo que no deita fora toda a sorte de privilégios do ócio , descanso e nos arregaça o coração com o exercício da ocupação. Este é o tempo que vivemos : um jogar-se tremendo sobre os projetos pessoais , mesmo sabendo que este se jogar seja indício de um tempo que nos cobra produtividade, maximização dos despertadores. E o que nós dá em troca? Como recompensa há a criação das parcas recreações ,entretempos ( sim, entretempo pois é considerado um hiato, um oco de tempo, o próprio o tempo se torna idêntico a produzir) para suprir as nossas faltas com aspectos diversos, como distração e por vezes cuidado de si.
Mas estes não são problemas de inteiro nossos, mas do século, pensamos. O que isto significa realmente ? Antes destas gerações afagadas pelo peso uma época que quer resultados , não havia ocupações? Ou não havia este sentimento velocidade que nos perdemos nos afazeres? Um autor do império romano nos diz o contrário. Este já rebate justamente as críticas do tempo que se esvai:

Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou (4) por nós sem que tivéssemos percebido ( SÊNECA, tranquilidade da alma)

O velho Sêneca, minah querida, já nos remetia a responsabilidade, mas ainda assim é um fardo demasiado grande. Ontem a vi correndo para algum lugar, reclamando de algo que havia de ser feito e , ainda assim, foi escolhido por você . Não sei bem o que fazer ou dizer : o problema, embora autores antigos nos façam prestar atenção ao que diz respeito à nossa parte ( isto é, o que escolhemos e como gastamos nossos dias) vêem o problema sob a ótica de condicionantes não materiais ou desconsiderando os ardis de distração que não havia na época passada ( o que é natural).
A única maneira infeliz de olhar esse mundo parece ser com uma atitude de desconfiança, reavaliação( uma leitura cartesiana em cima de um autor antigo talvez).Isso se quisermos pensar que sêneca ( enquanto atitude relativo ao tempo) está certo. Olhar cada vago instante com um pé atrás para assim assegurar o mínimo de perda; ou ainda , perder dois minutos desconfiando, para assim ganhar um. Para seguir o velho estoico /eclético seria preciso isso ( embora ele não prescreva esse método) e parece que assim, você e eu conseguiríamos em plenitude o que se almeja: sorver o tutano da vida no máximo possível enquanto se está numa sociedade degenerada por resultados que não visa o bem-estar (bem-estar como instância ou condição mínima para realização de qualquer homem).
Mas esta solução,embora boa , é uma faca de dois gumes ( como quase tudo), aceitar desconfiar de tudo e de todos é já uma dificuldade no que condiz ao outro ( ao amado no nosso caso); é perder aquele átimo de inesperado e que se disseca depois em pensamento: isto é, é dissecar o que ainda simplesmente não nos foi dado de todo. E não é isso o amor, a felicidade, a revelação pessoal do divino ( o que chamam o “ sentir na pele ” ou a experiência que “se banaliza com palavras” ) ? Aquele breve inefável instante onde tudo se desfaz e se revela ( dizem os místicos).
Dessa maneira me encontro ( nos encontramos )num dilema : pois de fato sêneca está certo , nosso amor entretanto não está errado. Poderia se seccionar essa desconfiança só para dadas áreas e isentar-nos de tal reflexão no amor : mas como? Nosso amor é no tempo. Tudo é no tempo. Precisa ser avaliado enquanto tal (se sêneca e a atitude de desconfiança estiver certa). É preciso que a quantifique numa medida de horas e veja se não é um esvair.Ou talvez precisemos pensar que todo o amor é um índice que participa da eternidade para se livrar de tal julgamento.
Mas isto é demais para o meu peito cético. Se assim for é melhor que o amor passe e se mostre como um engano : um enaltecimento de algo que me fez esbanjar horas, que me subtraiu vida , mas não me adicione um além, uma eternidade. Seria uma soma muito pesada para mim.
Bem, o fato de eu pensar o amor de tal modo já é um amor que trai a si mesmo, que desconfia a si mesmo. Este não é o amor .E se for só isso o amor no tempo  eu  não o quero. melhor não tê-lo.

E por isso devemos terminar.boa sorte.
6.05.2012

artista


passasse fome ou frio , fazia seus retratos. as coisas iam bem, a vida sob os contornos dos outros era boa. entretanto , ouviu um desafio de um cliente: “consegues fazer um retrato meu envelhecido?” E lá foi com o grafite: como um artista imaginativo pensou todas as dobras e flacidez que iam se impor no rosto jovial do rapaz. Só precisou que ele posasse por uma uma hora e meia: era um desenho à lápis que ele queria e que, aliás, foi muito elogiado pelo  modelo.
Bem se sabe que um exercício difícil para quem nunca o fez se torna, com o tempo costumeiro, fácil, até um ponto que se torna inevitável. Assim foi com o nosso desenhista: o artista de ruela achando graça com o desafio, passou a estendê-lo por chacota nas observações das pessoas e os transeuntes : começava a imaginar todos como seriam se mais envelhecidos. Achou divertido por um tempo a curiosidade do resultado, mas no fim todo o exercício nos incorpora e toda a repetição se torna condicionada. Talvez obsessão, talvez morbidez, mas agora o artistas só via senis e decrépitos nas feições ao redor. Sendo ele próprio refletido em espelhos e vitrines, via a sua feição de futuro. Um Dorian Gray às avessas ou um fazedor de Dorian grays, quem sabe? Mas sabia as consequências ingênuas do novo fardo: Que mulher assobiar, se via senhoras de 90 anos? que pessoas levar a sério se tão fragilizadas pelo que as aguardava ? A coisa se agravava: via agora não só senilidade, mas já nos rostos familares havia o putrefato . era uma possessão, decerto uma loucura do demônio,pensou. Já não conseguia exercer sua profissão: como olhar e desenhar  um cadáver, se só via músculos e peles apodrecendo ? O artista agora era de fome. Perdeu seu ofício. mudou-o na verdade: pinta isolado em qualquer recanto telas de paisagens e natureza morta. Estas últimas entram em ruínas e apodrecem também...Mas não se equivalem, nunca poderiam, assim o pensa , e não sabe bem o porquê . Não se entende porque ainda tenta pintar, nem porque ainda não se matou, sendo ele próprio em cada reflexo um cadáver encarquilhado da sua derrota na arte e na vida.
28.04.2012


diário de um pedaço de carnes e genes

uma eterna seis e meia. As luzes não eram discretas como as lamparinas do século XIX. A eletricidade veio com o pai dos meus pais  e estes últimos se acostumaram até ser algo absurdamente comum.
Não sei bem quando, talvez ninguém o saiba, mas os dias duravam mais, as nossas atividades cresciam... a nossa fadiga se estendia. Mas ainda havia uma ou outra esperança  para os meus avós ( ou quem sabe para os bisavós deles, não importa) : as luzes se apagavam, deitava-se sobre a umidade de um solo que igualmente carregava o pai daqueles pais brutos e trogloditas e via o mesmo que via o primeiro homem: negrume incomum, lua e estrelas. Sempre haveria, sempre lá estariam: um patrimônio comum símbolo de contemplação ou sinal de boemia. Mas as luzes : ah, as luzes! tudo claro de acordo com o nosso esclarecimento e progresso : os postes., os outdoors, o neon, a retirada do terror infantil do breu da meia-noite.
Agora eu olhava placidamente e concentrado:era meia noite e um minuto .O céu ainda parecia ser seis e meia. As estrelas  quase apareciam, podia pressenti-las... mas quê ! já passava as horas, já irrompia o dia.

a noite todos os gatos eram pardos. ao céu de hoje todas  as noites : dias pardos;
Mas é hora de ir trabalhar .
que horas são? não importa . é sempre dia, é sempre labuta.


Assinado:
filho do filho do filho de... um homem?

07.04.2012

dragões

 Um dragão de escamas brancas era a estrada pedro II na visão de um menino. um sobre o outro os carros, todos diferentes, mas sempre o mesmo farol amarelo esbranquiçado, a imagem embaçada de não sei quem sobre os vidros esfumaçados.
Não eram pessoas que passavam por aquela avenida , eram já somente parte de uma coisa só , algo maior que a si mesmos ou da direção que supostamente deliberavam . Quem sabe, especulava o pirralho, sendo dragão, não vinha da Ásia ,percorrendo subterrâneos  e viajando sabe-se lá a que velocidade.
 A hora dessa serpente branca aparecer era às 12 horas e às  18 horas . nunca vira sua cabeça nem sua cauda , o que era testemunho de sua enormidade. O réptil gigante talvez estivesse a passear, atrasado para um encontro ou ainda fugitivo do seu próprio rabo que de tão enorme sempre mordia a si mesmo.
Sendo criança, tendo pai, e sendo o último motorizado por consórcio ,também por vezes virava escama do grande dragão. Olhava então as escamas do lado , e todas  estavam concentradas para frente, que, por sua vez dava visão tão somente a outra escama e assim por diante.
O fluxo reluzente, que espairecia a  mente sobre o vagar das horas ociosas de uma criança agora  parecia exaustivo. O brilhante dragão não aparecia quando dentro de sua faicante pele: era o guri engolido por ele  e pelo seu digestivo: o tédio e a apatia. e tal nesta situação de mal-estar sem quê, mas com um porquê, nunca aprendeu a dirigir e se tornou peregrino. dizem que foi iluminado no tibet por um dragão místico em uma de suas andanças.mas é só boato.

2012

arranha céus,terras e homens

eram três prédios. Horríveis. Enormes. por isso resolvera destruí-los. lera um manual de bombas caseiras da internet e  colocou nos pilares da construção. estrondou e ruiram todos os indesejáveis gigantes. Não era uma causa, uma ideologia ou um protesto na queda deles, mas não eram bonitos os blocos de cimento e era próximo a sua casa. se perguntara brevemente se não era bobagem fazê-lo, se não era negligenciar um problema conjuntural, e , como de todos só poderia ser resolvido pelos mesmos, não por um indivíduo. Ou ,quem sabe , do seu ato adviria um argumento mais elaborado que seria justificado como uma advertência para o crescimento desenfreado das cidades. Poderia ser tudo verdade, poderia inclusive ser mentira . mas meu deus , aquilo o oprimia . era como, um muro  que separava do que antes via. uma foice da experiência do que o horizonte lhe vislumbrava. quem o consultou? quem perguntou a ele se aquilo era o melhor ?
viu cada edifício subir como numa caixa de legos e a desmontar de soslaio tudo que lhe imprimira sua realidade comum,circundante.Por isso teve que dar fim àquilo: que caísse tudo. mortalha do ressentido? uma negação afirmativa? talvez, mas o remorso não destruía realmente o seu crânio . Todos os valores,arquitetura e história devassados talvez levassem a algo inovador,moderno, e ,talvez, aquele prédio fosse o melhor para uma nova época, mas não veria esse tempo. Veria só o tempo antigo se arruinando. que ganharia sendo a favor dele?
Queria o antigo , o reacionário, ainda que fosse um fracasso subsequente a outro. um prédio caído sobre 1000 crescentes.

2012

O belo

Immanuel era um monge de uma abadia  abandonada No Meio do Nada. sim, os demais monges se foram e cá o velho Immanuel ficou para guardar o tesouro da abadia. O tesouro era já renomado: se na Espanha fazem peregrinações  à Compostela, na Alemanha faziam para ver a escultura que Immanuel guardava. Lá iam os pintores , músicos e artistas em geral para ver o objeto que encarnava O belo: o que comunicava universalmente um sentimento tal de prazer que deixava todos num estado de contemplação que pouco se pode explicar.
  Walter ,o nosso protagonista ou antagonista, a depender da escolha do leitor, foi em busca de tal artefato. Crítico literário e jornalista renomado , Walter, após encontrar no mapa a localidade " No Meio do Nada" da abadia, encontra o já bem idoso Immanuel a dar sua caminhada diária e pontual no jardim. Uma visita para Immanuel nunca era uma visita de fato para ele  e sim para o que protegia( e ele o sabia).
Com muito bom gosto, Immanuel atendeu o pedido de Walter de ver o tal artefato; apenas havia a condição de que não  poderia retirar fotos ou esboçar rascunhos em presença da obra. Walter assentiu, embora como bom cético duvidasse que algo fosse tão lindo assim: era crítico literário e a exigência de gosto o tornou incrédulo quanto a ideia de beleza. E eis que que Immanuel abre uma portinha de uma antiga cela da abadia onde está o famoso objeto: parecia pequeno, mas quê! Era acoisa mais bonita que walter já vira , um apaziguamento de espírito , uma conformidade aos fins do universo lá estavam naquele quase bibelô de aura única.  Sim, era um objeto humano, via-se a ranhuras talvez de um cinzel, mas parecia quase obra da natureza. Immanuel explicara que lá estava há muito tempo e que dizem que foi feito pelo que os homens do século XIX costumavam chamar de gênio ou benção da natureza.
Walter como jornalista, se recompõs do breve deslumbramento e furtivamente tirou algumas fotos em um dessas pequenas câmeras que em outros tempos só havia em filmes de James Bond. Precisava mostrar isso ao mundo.  Dito e feito.
Enviou as fotos para os jornais, internet ,etc. tormou-se um sucesso.Fizeram até sandália havaiana estampada com a escultura de Immanuel . Entretanto a beleza única que walter achava na obra parecia dissipada ao vê-la em todos os outdoors,banalizada, sem aura...Mas era o custo de um boa matéria para um tablóide.
Com um pouco de maledicência , Walter mandou as fotos, os folhetos e até a sandália estampada com a escultura para Immanuel, por meio um mensageiro. O mensageiro lhe relatou que o velhinho ficou fulo da vida, e nada fez mais que ir para Berlim com uma mala nas mãos. Bem soube Walter, tempos depois, que a  escultura foi vendida no mercado negro de arte para colecionadores, enquanto o velho monge se instalou num apartamento caro com muito uísque e frequente visitas de prostitutas.
Walter foi visitá-lo . Quem atendeu foi uma loira decadente, mas ainda bonita . Perguntou-lhe: "Immanuel está ?"
"Quem deseja?" . disse a loira
" Walter B"
"Um minuto"
demorou um tempo e logo veio a loira  dizendo que Immanuel não ia recebê-lo, mas que havia lhe deixado um recado nesse envelope. Bem, Walter, já esperava de certa forma essa recusa. Descendo as escadarias do apartamento foi olhar o envelope. Só havia um foto em que se via uma Immanuel se atracando com duas mulheres lindas e em uma de suas mãos uma garrafa de uísque sendo sustentada com muito dificuldade. do outro lado apenas um breve nota: " o máximo do belo universal: peito e bunda. Publique se quiser também".
1.02.2012

Bendito Edon



Essa é a história de Edon e como sua vida era subjulgada pela crença em maldições e bençãos. Criada numa família religiosa , judeus convertidos em protestantes por motivos de status social, os pais de Edon mantinham uma peculiar devoção aos ritos e supestições. Na morte do seu pai sua benção foi toda herdada pelo seu irmão mais novo ,  Yitzhak, enquanto a Edon pouco restou senão alguns suspiros. E daí a vida de Edon se tornou um inferno :um mascate a errar pelo velho e pelo novo continente a maldizer o irmão, culpando-o por toda miséria que lhe aconteciae  viria a acontecer. Cansado de penar na miséria da errância, Edon toma a decisão de mediar todas as desgraças que lhe advinham: precisava recolher benção das pessoas para assim mudar sua fortuna.
Largou a vida nômade, pois percebera que já recebera muitos impropérios ( pior , maldições) de pessoas taxando-o de judeu maldito ou de cigano vagabundo pela simples fato de não ter residência fixa. Reuniu seus pertences ,vendeu  e iniciou um negócio funerário numa cidade pacata, afinal ninguém abençoa mais e de todo coração como os à beira da morte. Ademais além dessa possibilidade adentrou como voluntário no hospital público com igual motivação de ganhar a afeição e, por conseguinte, o bendizer dos moribundos. Sua tática era simples : ganhava-lhes a atenção do quase mortos, fazia que os doentes lhe dissessem todas as graças possíveis para que assim no dia seguinte edon os sufocasse para não mudarem de ideia.

Por coincidência ou não sua vida melhorou: estava saudável como um touro , abastado com seu negócio funerário e querido por todos da cidade como uma alma caridosa para os enfermos. Mas não era suficiente: Edon queria mais . uma vez obtido as bençãos dos velhos, agora era necessário a benção das mulheres.
E cá ia , atrás de virgens , prostitutas  e casadas fazendo falsas juras para conseguir verdadeiras juras e bons votos apaixonados. O procedimento era o mesmo: quando recebia a jura , logo o abeonçado edon matava a vítima. Tendo o suficiente de  boas palavras para si, Edon resolve se casar e tem um casamento feliz com uma vasta prole. obviamente atribuía isto ao acúmulo de bençãos.

Uma vez que Edon se fez como o homem mais abençoado e um dos maiores assassinos , restava a dúvida de quem abençoar na hora da morte. Visto que todas as bençãos recebidas foram senão fruto das bençãos não recebidas pelo seu pai, resolvera deixar todas os bendizeres  partilhados igualmente para os filhos.
É chegada a hora da morte, todos parentes já desiludidos... eis o momento: Edon preparara o discurso fazia anos . E lá foi : " Eis que meu filho vos abençôo por..." falta-lhe a voz .Morto.

19.01.2012

o misotecnológico



 Seu Bachelard devia estar a caducar. uma merda isso. o velho  era Brilhante. Nunca trabalhou, gastou o resto do dinheiro de duas gerações de industriais,... mas quê! O velho era realmente brilhante. Seu Bachelard tinha livros traduzidos, foi condecorado e o escambau. Estudava história da ciência. Talvez tenha sido excesso de estudo que o ferrou ou talvez fosse sempre um pouco louco. Eis a história do decrepto:
Seu Bachelard estava na biblioteca, estudando  como sempre , quando escutei  um grito : “Thoreau está certo ao avesso! Thoreau deu-me a chave!” . Eu, como bom empregado e como bom cristão fui olhar o que acontecia , mas, quando vi, era só ele eufórico como tantas outras vezes com um livrinho qualquer. Nada demais, pensei, coisa de gente que estuda muito. No outro dia é que comecei a ver a diferença : um sorriso no rosto, uma alegria estranha. Perguntou-me onde havia nascido. Ele sabia que eu era do interior , mas respondi : “ Nasci no município do Cajá, seu Bachelard”. Depois perguntou se a população era pequena . Disse que sim . E assim, de repente, ele me disse: “Nos mudamos para lá hoje!”. O velho era excêntrico , mas me surpreendi com essa novidade: ele morava na praia , na capital  e com toda família dele próxima, não havia sentido ele se mudar. Não o questionei, achei ótimo ir para casa, pretendia fazer isso quando juntasse dinheiro. Melhor para mim.
A mudança foi rápida. O velho comprou um bom sítio por  meu intermédio  e em duas semanas já estávamos lá. Bom era estar na cidade natal. revendo os amigos, a família... e com um emprego! O sítio era bonito, tinha uma parte que era mata nativa e outra de  pasto para boi. Aí que começou o comportamento estranho de seu Bachelard : vestiu uma roupa antiga , uma mistura tosca de cangaceiro e bandeirante, pegou um velho trabuco e disse que ia para mata. Bem, pensei, o velho estava louco! Devia ter desconfiado a mudança repentina. Porém , o pedido  que se seguiu pareceu revestido de bastante seriedade, e de tal modo estava eu feliz na minha terra natal que a aceitei. A conversa breve foi algo mais ou menos assim: “Heriberto Panza, vou fazer um experimento científico que vai exigir de mim um comportamento estranho . Posso tomar sua ajuda e discrição?" . Eu assenti, as frases eram vagas e não sabia no que isso ia dar. Queria era o emprego. E lá foi ele para mata com o trabuco,uma lata de feijão e um machado. Acampou lá. O velho ia toda manhã caçar. Via à distância seu Bachelard, mas este não deixava me aproximar. Com o tempo vi que juntava madeira da mata e começava, fracassadamente a  fazer uma choupana. Demorou aproximadamente uma ano, por tentativa e erro para conseguir fazê-lo. Meus dias passavam tranquilos. Apenas ajeitava a casa principal do sítio e ia para praça conversar com meus amigos de infância. Sempre perguntavam de Seu Bachelard. Eu dizia que ele era um professor muito ocupado fazendo experiências importantes e, por isso, não aparecia na cidade.
Escondia dos meus camaradas minha aflição de ver um homem tão inteligente parecendo um maluco e vivendo como um troglodita. Mas, prometi a seu Bachelard não interferir no seu experimento mesmo pendendo cada vez mais a ligar para o hospício. Depois de um ano e meio ele voltou finalmente para a casa do sítio. Enfurnou-se na biblioteca e foi escrever . passou lá um mês. só escutava as teclas batendo. De vez em quando levava-lhe chá e biscoitos para que o velho não morresse de inanição. Quando saiu da biblioteca pediu-me, para arranjar uma arco e flecha ou algum instrumento rústico. Dei-lhe um facão e uma boleadeira. No Agreste da Paraíba era difícil encontrar uma arco e flecha. Depois disso seu Bachelard voltou para sua choupana perto da mata. Mais dois anos nessa esquisitice. Negava-se completamente as facilidades do mundo moderno e do dinheiro que tinha. Durante dois anos fui inventando desculpas para os parentes e amigos de seu Bachelard não aparecerem. Nem atendia mais o telefone. Decerto deveria ser considerado um daqueles empregados que oprimem e exploram os  patrões senis.
Reparei com , o tempo que a choupana  de seu Bachelard não acendia mais a lamparina. Fiquei desesperado: será que o velho havia morrido na mata? Pedi ajuda  aos meus amigos para fazer uma busca na mata: após oito horas de busca encontrei seu Bachelard nu em pêlo com uma lança atrás de uma codorna. Não teve jeito : chamei o manicômio e notifiquei a família sobre o comportamento dos últimos 3 anos . Após isso e de uma grande bronca que me foi dado pelos familiares ( risco de me processarem etc e tal) soube que Seu Bachelard foi parar numa clínica de repouso , ou seja um manicômio particular ao qual, pouco tempo depois , soube que o velho fugiu, sabe-se lá como.
Passado 5 anos recebi uma carta de seu Bachelard, endereçada de Manaus e que transcrevo agora.
Olá, querido Heriberto Panza,
Escrevo-lhe esta carta porque, entre todos , você é o único que merece explicação em meio ao meu desaparecimento e ao meu experimento de alguns anos na sua terra natal.  Este experimento bem tive eu com uma leitura de lazer na obra Thoreau: Walden. Bem ele dizia que para viver de modo simples seria interessante se inspirar ou pesquisar acerca do modo de vida dos colonos e dos antigos. Obviamente a referência e o intuito dessa citação do Walden era um método para assegurar uma vida tranquila  e retirada. Mas cá pensei em transpor esse método para ciência: se eu utilizar um método regressivo da história não para uma vida mais simples, mas para observar os caminhos que a ciência tomou , posso observar também os caminhos que a ciência ignorou; em outras palavras meu caro Panza, se eu experimentar um vida de colono , bandeirante e homem primitivo posso , já sabendo o caminho tecnológico traçado anteriormente por este tipo , levar a cabo o caminho da tecnologia negligenciado.  Imagine os avanços que poderia descobrir! Bem sei , que o meu experimento tinha grande riscos de fracasso, bem poderia não haver nenhum caminho científico e tecnológico ignorado pelo , por exemplo, o bandeirante nas condições em que se encontrava...Mas se houvesse? e foi nessa hipótese de trabalho( e afinal a ciência começa sempre com hipóteses) que iniciei a labuta.  Refiz-me um bandeirante durante um ano sob aquela mata nativa. Mas não me utilizei dos métodos do bandeirante para viver, fui além com o que se tinha e ignorando o que vinha depois do bandeirante. Veja bem! Quando você me via cansado o exercício era muito mais mental do que físico. Reconstruir um método novo nas condições de tempo dos antigos sem , além do mais, recair em métodos contemporâneas é uma tarefa hercúlea! E assim fui fazendo descobertas inesperadas. Entusiasmei-me com o progresso de tal modo que acabei por  estender meus estudos: ia retornar a modelo pré-colonial  e ver do que desse período extrairia.mas infelizmente você me considerou louco, e cá bem entendo suas razões... talvez eu o tivesse feito o mesmo no seu lugar.
Argumentei com os meus familiares acerca  do meu experimento ,mas de pouco adiantou. visto isso , fugi do hospício. Daí trilhei  rumo ao norte para a amazônia e rumo ao Equador procurando uma tribo yanomami para me ajudar nesses estudos. Decerto esse escrito lhe parecerá mais uma carta de um louco que estudou demais e cá só fala asneiras . Bom, isso cabe a você, mas de toda maneira lhe mando um abajur que não se apaga nunca, fruto dos meus estudos alternativos de óptica daqueles 3 anos em sua terra. Talvez lhe mande posteriormente meu moto-contínuo , já está em fase final. 

Um Grande abraço,

Do seu amigo Bachelard

Vi o abajur, tentei ligar , mas não consegui. Mais uma prova que era doido. Ou talvez não apagasse nunca , simplesmente porque nunca se pôde ligar. Seu Bachelard estava certo numa lógica completamente distinta.Liguei ao mesmo instante para a família de sue Bachelard dizendo que o coitado estava no Amazonas. Às vezes gosto de pensar que  ele está são e salvo fazendo uma cidade futurista com alguns ianomâmis. Tadinho... e que saudade do meu emprego.
31.10.2011

interpretação





Caso relatado em 1882 no casa de repouso Casa verde. Encontrei alguns documentos no acervo da biblioteca nacional. É relatado pelo doutor Bacamarte a história de Lúcio Aneu da Silva, jovem filho de pai com o mesmo nome e Hélvia Morais da silva. O jovem aparentemente teve um desenvolvimento físico normal , porém intelectualmente era incapaz de compreender qualquer tipo de metáfora.

O pai , intelectual, força o filho dito lesado a aprender latim e grego. no fim dos vinte anos o rapaz sabe a biblia e os antigos de cor. não os entende , claro.
Sua deficiência é evidente. nem uma leve comparação é compreendida. Seu pai morre. Causas naturais provavelmente. Ele está só com sua mãe que se esforça para aprender a lidar com as finanças. Eles tem posses para não trabalhar e é  considerado estúpido demais para fazer qualquer coisa de útil.Seus dias são relendo os livros no horário que o seu falecido pai o obrigou a decorar e  que não entende . caminhadas no sítio que mora e dar um beijo na mãe antes de ir dormir completam suas atividades diária.
O evento que o levou a casa de repouso ocorre num domingo em que sua mãe passa mal :febre , fraqueza e alucinações. vivendo numa cercania isolada e Impedido de chamar um médico a tempo  ,Lúcio  lembra do conselho de seu falecido pai que afirmava que a resposta de tudo estava nos livros. O jovem rapaz inocente ,por crença e debilidade mental, escolhe um calhamaço preferido do pai : o filósofo romano sêneca. Lá encontraran a expressão remédios da alma. Nunca entendera bem o que era alma , mas sabia que remédios curavam, e cá era o que ele supunha que a mãe necessitava.
Lá estava que era preciso reabrir as feridas morais para fortalecê-las. retirou as roupas de sua mãe, procuro cicatrizes no corpo e reabriu cada uma . A perda de sangue fez com que em duas horas sua mãe estivesse morta. Assim,o corpo a começar a feder e Lúcio empoçado de sangue envolta aos livros e alfarrábios, é encontrado pelos empregados na segunda-feira com o filho prostrado ao lado.

Levado direto a delegacia e, relatada a sua versão aqui acima reproduzida , o jovem Lúcio conhecido por sua estultície é levado a referida casa de repouso, uma vez que é considerado incapaz de ser responsabilizado pelos seus atos. Ao ser levado para lá, é escoltado por policiais com o perigo de linchamento da população local pelo ocorrido. Entre os impropérios escutados por Lúcio por parte das pessoas está o de ser imoral , matricida e assassino.

Na casa de repouso é tratado de maneira isolada, mas bem tratado. seu suicídio ocorre dez dias depois ao saber  por parte do enfermeiro que estava lá por estar doente e , por isso , tentar o mesmo tratamento que fez  à mãe.

12.12.2011

annus mirabilis



Atrasado, sempre atrasado. Hoje não poderia ele estar mais atrasado. sabia onde deveria ir , mas nada havia preparado para sua apresentação. Giovanni Kairos, o grande vagabundo do departamento de física. Por mais que os esforços , as noites de insônia e as horas de almoço canceladas, o estudo de Kairos pouco valeria estando incompleto. Estava resoluto o rapaz:  haveria de dar descarga na privada as poucas páginas escritas e dar um tiro na cabeça. Sua incompetência era derivada não só de sua lentidão , mas , porque não, da sua burrice.
Ao entrar no banheiro, Kairos, para sua surpresa, encontra uma sala em branco . Onde raio estaria a privada, o chuveiro e todo o azulejo rosa terrivelmente feio daquele seu “apertamento” alugado? nada mais se encontrava lá,apenas um espaço que era enorme, muito longe daquele 5x5m de banheiro cheio de baratas. Não se via o fim da sala , e nem havia horizonte para quantificar a distância. Tudo era só branco e nada mais.
Na entrada da porta apenas uma inscrição sumária em pedra “annus mirabilis”. Giovanni se perdeu temporariamente no espanto e na curiosidade, esqueceu até do suicídio programado. E lá foi o rapaz explorar o local durante um bom tempo. Não encontrou um limite para a sala ou uma parede: o único local determinado era o chão branco e aquela porta com a inscrição latina. Bom , talvez estivesse sonhando, talvez fosse uma ilusão . Não sabia ao certo.  Giovanni fechou a porta e deixou para lá. Já devia estar muitíssimo mais atrasado com essa inesperada exploração imobiliária. na volta do trabalho resolveria este problema. Porém, ao sair do cômodo branco, eis sua surpresa que o horário que havia saído era o mesmo ao que havia entrado. Deveria estar pelo menos umas duas horas atrasado e em verdade nada havia passado. Giovanni ficou intrigado: resolvera então ficar 20 minutos  a mais nessa sala em branco para ver se suas suspeitas se concretizavam. fechou a porta, se sentou e logo se deixou embalar pelo sono sem querer. Ao acordar assustado , não sabia quanto tempo havia passado, saiu da “sala nova” e percebeu que de fato tudo continuava igual. alguns poucos segundos haviam passado a despeito de ter dormido com certeza algumas horas. Giovanni percebeu que ganhou na loteria : havia de ter tempo naquela sala de escrever seu artigo. Colocou sua escrivaninha, livros e laptop para dentro do ambiente atemporal e escreveu durante dias. Uma coisa que percebeu é que não sentia fome, nem sede, nem mesmo o sentimento de solidão . Era uma máquina. Uma produtividade estupidamente assustadora, apenas precisava deitar de vez em quando, mas provalvemente por hábito do que por necessidade. 
Terminou o artigo , mas ainda era pouco frente a oportunidade de um local onde o tempo não  passa: queria mais . Pegou todos os livros da sua biblioteca, e-books, arquivos em PDF e colocou a lê-los, relê-los  até decorá-los. Depois disso produziu uma dezena de artigos e coleção de livros de cunho inovador. Bem deveria ter passado uns três séculos se fosse o tempo corrente , mas ali não passava de um átimo de segundo.
Pronto! C’est fini! A contribuição de Giovanni Kairos e o próprio Giovanni Kairos haviam revolucionado o mundo e sua vida: um gênio foi formado . Podia ir agora ao departamento de pesquisa e mostrar à todos o que havia feito. Saiu,enfim, da sala branca . Foi trocar de roupa e comer algo calmamente, apesar do atraso do trabalho.  Afinal, após todo o seu estudo e resultado escusariam qualquer falta ou demora frente a um departamento de pesquisa tacanho.
 Faltava apenas escovar os dentes e ir ao banheiro... e eis que ao abrir a porta estava de fato lá só o banheiro! A sala branca havia sumido junto com seus livros , trabalhos e laptop. Giovanni fechou e abriu a porta várias vezes , mas nada: apenas o banheiro de azulejo rosa e a escova de dentes largada na pia...    
Escovando os dentes lembrou Giovanni com ironia de uma passagem “ Que sou eu, afinal? Carne, fraco alento, e alma. Deixa os livros, não te disperseis” de Marco Aurélio. De mais um dos livros que havia lido  na sala e que se perdeu junto àqueles “anos maravilhosos” . Demitiu-se no mesmo dia e foi vender coco na praia.
21.10.2011

Cassandra

 apanhadores de sonhos nos brincos. por qual motivo Cassandra usava esse adorno  se acordada?

 quando sonhava com olhos abertos o peso da cabeça sobre o corpo havia de dar um suporte para uma visão de pesadelo que estremeceria a felicidade de um sonâmbulo no seu cômodo fechado. Mas , como jovem, Cassandra só podia ver o que não lhe foi experienciado como horror . o mundo só podia indicar-lhe sob ruela vadias e lugares perigosamente incômodos um vida má  ao qual podia, em tese , evitar.

Mas se Cassandra usava aqueles brincos que lhe assegurariam as boas coisa da vida ( que é um sonho), já Cassandra não acreditava que a vida fosse tão boa. Algo que a protege do horror, seja do sonho ou do que acordado, vetaria a possibilidade  do espontâneo, do imediato , da impossível e feliz utopia de um menina.  Cassandra, ao usar aquele brinco, já era uma mulher que ainda sonhava, mas temia o inverso do sonho. Era, em seu germe, já uma puta velha que temia o estupro  de uma mau sonho ou um pesadelo de realidade.

2011

Ovidianas ou livrinhos



eu era um homem normal até os 15 anos .tornei-me, de repente, em encontro com um livrinho de bolso de uma banca de jornal qualquer, ovidiano. Ah , toda a minha vida decerto tomou sentido. era bonita a vida . tinha propósito.
o trabalho não era mais trabalho, as folgas não eram mais folgas, eram exercício da minha ovidianeidade. conquistava mulheres e sabia conquistá-las. muni-me de Ovídio não menos como um pastor da bíblia. |Relia, aplicava, porém adaptava aos meus tempos . Assim tomou o destino do adolescente com aquele livrinho que dizia da arte de amar.
Ah, encontrei muitas experiências vagas, rápidas, sucessivas. encontrei-me com mulheres estalinistas , estudantes pós-modernas, eco-anarquistas e todas lindas com seu livrinho de bolso de banca de jornal que igualmente fizeram mudar vidas alheias. eu ,como um ovidiano, fazia o mesmo, embora não soubessem.
encontrei muitos parecidos comigo, só que não reconheciam. tinha amigos que diziam que eu devia viver sem a tutela de um livro e pensar comigo mesmo: sapere aude. mas quê , quando eu observava de perto, meu amigo havia lido isso de pensar consigo mesmo num livrinho de bolso de Kant . Outro, primo meu, dizia-me discursos de maneira triunfal , falando em jogos de valores, crítica à moral e principalmente que não queria seguidores. mas Quê !seguia igualmente um livrinho que encontrara em um sebo que era de Nietzsche. E assim achava pessoas geniais que escondiam onde leram aquilo proferiam ou encontrava figuras que defendiam tão bem seus livrinhos que pareciam advogados ou profetas.
Mas corria bem minha vida e o meu livrinho a ponto de chegar o tempo que sabia de cor o primeiro ao ultimo parágrafo dos verso de Ovídio. Encontrava seitas semelhantes ou afins: um amigo me indicara D. Juan de Moliére. gostei. Antes um exemplo ovidiano, não uma superação. e mantinha-me fiel ao meu livro e lia os outros como glosas ou esclarecimentos.
Até que me encontrei com uma especialista de Ovídio . como bom ovidiano, interessei-me por ela, mas cá bem ela não era ovidiana, uma analista somente . então apliquei-lhe perfeitamente o que manual ovidiano dizia para conquistar uma mulher, e assim foi que permaneci no seu amor e a deixei após um tempo. Aprovado estava: o método funcionava mesmo para alguém que conhecia seus truques. Enfim, eu antes seguidor do poeta por opção , agora me tornava a encarnação de sua poesia.
|Eis que tocava o cotidiano para frente. surgiu-me outra mulher. esta tinha um ódio ao gênero masculino. dizia-se seguidora do livrinho de bolso SCUM. Iria me provar a inferioridade do meu gênero e cá como boa estúpida tentou. Eu como bom ovidiano concordava-lhe para que assim facilita-se a conquista. Li o livrinho de bolso da vida dela, e cá bem impressionado com as bobagens não desisti: fazia-se de difícil, resistia, fazia que queria , mas hesitava. lembrei-me então da terceira parte do llivro da arte de amar . este dizia como uma mulher devia agir para conquistar um homem:
Visto a situação em que me encontrava, eu mais enredado por ela do que o contrário, percebi que ela era ovidiana:sabia perfeitamente o que fazer, sem nunca ter lido ovídio e ainda acreditando em outra coisa diversa. observado isto desisti completamente dos livrinhos de bolso: tal qual como um católico que acredita na salvação pelas obras e descobre que a salvação só é pela graça, vi anos de esforço para fazer da minha vida a própria poesia de Ovídio se tornarem nulas frente a uma mulher naturalmente ovidiana. todo esforço em vão. todo modo de ser no equívoco e no não saber. larguei os livrinhos de bolso, tentarei tutoriais e arquivos em PDF.
24.09.2011

04/02/2010 -conto

Dona de Casa

Terminou o banho, ainda recendia ao cheiro de coco. Olhou sua pele e a esfoliou com a palha de aço. Sangrou um pouco. Mas ao menos, pensava, não precisaria da cera do chão como carmim ao rosto.
E lá foi a coser na sua velha máquina, e cosendo com os tecidos das estopas maltrapilhas que antes tornaram limpas as salas. Fizera o corpete com velhos tapetes da entrada do terraço; as mangas formadas pelos retalhos das colchas e de espuma da cama que em anos as costas já tomavam por doloridas. Estava a criar em traje ao que se vestira dentre os anos; a juntar no seu vestido o que em dividido em sala, banheiro e cozinha.
Os bibelôs do salão principal viraram as jóias do pulso amarrados por barbante de pão; os ladrilhos rosa da lavanderia se esmiuçavam em cacos, e assim deram o toque dos detalhes cravejados nos buracos próprios da indumentária.
Foi até o biombo do seu quarto, se trocou com a delicadeza que a roupa exigia e viu no espelho o que quisera transparecer: tão decadente e encardida. Enfim em identidade com a derrocada de sua casa....
Observou que agora com as vestes de acordo com a ocasião e o lugar era o momento de um pouco de festividade. Em despedida sempre há festas com direito a música, ainda que seja uma só. Foi até a sala de jantar e lá soou uma valsinha antiga pelo toca-disco. Não podia dançar sozinha: pegou o rodo e com ele fez os seus volteios. Porém música tem término sempre antes do desejado, por isso queria até uma segunda dança, achava que com a vassoura teria conseguido um parceiro com rodopios melhores, porém manteve-se firme a sua palavra.
Foi até seu porta-jóia e lá encontrou os seus colares. Havia de pérolas, coral, ametista, bijoux de quinta categoria, todos eles muito bem trançados qual uma massa só. Das forcas, de longe, essa seria a mais bonita. Subiu a mesa, amarrou uma ponta ao lustre e a outra ao seu pescoço. Pensou por instante se isso era um pecado grave ou se deveria esperar para dar um adeus ao marido, mas não se importou muito com esses devaneios, estava cansada e se esperasse o esposo teria que fazer o jantar.

Pulou.

O pescoço ficou a doer, a respiração a faltar. Antes de perder consciência viu com esperança uma luz, mas percebeu instantaneamente que era só o lustre a ter um curto circuito.