segunda-feira, 21 de abril de 2014

O peixe



Fui para uma Mostra de cinema faz alguns anos.‭ C‬onheci uma moça chamada‭ ‬Joana na espera da fila do filme.‭ ‬Ela esperava suas amigas ‭(descobri depois‭)‬.‭ ‬Ela não era idosa.‭ ‬Tinha um trinta e pouco.‭  ‬Ela tinha uma tatuagem‭ ‬grande de peixe,‭ ‬um‭ ‬tipo de‭ ‬ carpa cinza nas suas costas.‭ ‬Foi bem simpática,‭ ‬conversando,‭ ‬enquanto o pessoal ajeitava o som do cinema.‭ ‬Perguntei se ela ia ao‭  ‬show mais tarde do evento.‭ ‬Ela disse que aparecia com as amigas‭ ‬( umas coroas de‭ ‬70‭ ‬anos‭)‬ que chegaram pouco tempo‭ ‬depois.‭ ‬Nos despedimos e fui assistir o filme.‭ ‬Filme nacional,‭ ‬bacaninha para distrair‭ ‬no ócio.‭ ‬Saí da sessão,‭ ‬fui para casa,‭ ‬li um cadinho e voltei para ver o show do festival.‭ ‬Lá estava o peixe‭ ‬,‭ ‬ou melhor,‭ ‬Joana e suas costas com peixe.‭ ‬Não era bonita,‭ ‬nem nada,‭ ‬mas o peixe dela me chamava.‭ ‬Queria dormir com aquele peixe.‭ ‬E bem,‭ ‬fiz o que todo homem‭ ‬cretino faz:‭  ‬embebedei a moça,‭ ‬dei um‭ “‬chega para lá‭” ‬nas amigas dela‭ ‬e a convenci a ir à minha casa depois‭ ‬do‭ ‬show.‭ ‬Lá fui eu‭ ‬para meu lar gozar.‭ ‬Joana tirou a saia indiana,‭ ‬a blusa:‭ ‬ficou nua‭ ‬e semi cambaleante olhando para mim.‭ T‬irei minha roupa‭  ‬e mandei ela ficar de quatro.‭ ‬Gostei da posição porque podia ver‭ ‬a tatoo do peixe.‭ ‬Parecia que‭ ‬a carpa se mexia a cada estocada.‭ ‬Era bom de ver aquele peixe nadando.‭ ‬sentia o gemido de‭ ‬Joana como uma bolha de oxigênio saindo da boca daquela carpa.‭ 
Depois que gozei,‭ ‬eu não estava nem aí para‭ ‬Joana.‭ ‬Ela também não estava muito consciente.‭ ‬olhos meio revirados,‭ ‬babando.‭ ‬Fiz um pouco de sexo oral e a empurrei‭  ‬ela na cama.‭ ‬Dormiu na hora.‭ ‬E lá eu‭ ‬admirando o peixe dela.‭ 
Joana‭ ‬acordou no outro dia completamente desorientada.‭ ‬Não sabia o que havia feito.‭ ‬Estava com uísque demais na cabeça.‭ ‬Eu disse que ela dormiu‭ ‬no caminho para minha casa e só havia acordado agora.‭ ‬Meio incrédula e provavelmente envergonhada de ter saído‭ ‬comigo chutada de bebida,‭ ‬me chamou para sair de noite.‭ ‬Ironicamente me chamou para comer sushi.
De noite‭ ‬lá veio ela,‭ ‬levemente encurvada,‭ ‬nem bonita nem feia e seu peixe.‭ ‬Usava um vestido de costas nuas.‭ ‬Eu ia dar um fora nela,‭ ‬mas ela estava com o peixe‭ ‬à mostra.‭ ‬E não resisti:‭ ‬jantamos e fomos para minha casa,‭ ‬minha cama.‭ ‬Ela não estava bêbada,‭ ‬logo‭ ‬não ia deixar que eu transasse com o peixe.‭ ‬Percebi‭ ‬com esse pensamento que‭ ‬ela era só um suporte‭:‭ ‬o peixe era o que eu queria‭ ‬.‭ ‬Foi‭ ‬um sexo‭ ‬insípido.‭ Joa‬na era ruim de cama,‭ ‬já o peixe‭ ‬dela era excelente.‭ 
Com o tempo notei que a moça parecia gostar de mim e estava satisfeita saindo comigo.‭ ‬Eu também queria que ela voltasse:‭ ‬precisava planejar como ficar com o peixe e sem ela.‭ 
Durante algumas semanas a embebedei,‭ ‬como tática para fazer sexo com a carpa sem‭ ‬Joana.‭ ‬A lógica era:‭ ‬ela bebia‭ ‬demais,‭ ‬o peixe aparecia,‭ ‬Joana‭ “‬sumia‭” ‬e‭ ‬eu gozava incessantemente.‭ ‬Mas‭ ‬Joana começava a evitar beber muito‭ ‬e‭ ‬tentava‭ ‬se controlar.‭ ‬Então‭ ‬lá ia eu para as fodas ruins com ela.‭ ‬Passei então a dar um‭ “‬sossega-leão‭”‬,‭ ‬um‭ “‬boa-noite cinderela‭” ‬e‭ ‬às vezes‭ ‬LSD para ela.‭ ‬Algumas vezes funcionava e ela‭ ‬se transformava‭ ‬num peixe que se contorcia e me contorcia de‭ ‬felicidade.‭ 
Ela estava‭ ‬doente e eu luxurioso.‭ ‬Eu estava resolvido a transformar‭ ‬Joana‭ ‬em‭ ‬uma drogada para que assim ela fosse sempre o zumbi‭  ‬e aparecesse,‭ ‬no seu lugar,‭ ‬aquele ser‭ “ ‬aquático‭” ‬nas‭ ‬dorsais‭ ‬.‭ ‬Joana estava apaixonada por mim e‭ ‬pelo o que‭ ‬eu‭ ‬percebia‭ ‬na convivência,‭ ‬era sozinha no mundo no que se referia a família.‭ ‬Com o tempo as amigas reclamavam um pouco seu estado de bebedeira constante‭ ‬e falavam da minha má‭ ‬influência,‭ ‬mas eu não estava nem aí.‭ 
Porém Joana perdeu seu emprego devido as drogas‭ ‬e‭ ‬ eu‭ ‬a‭ ‬acolhi felizmente‭  ‬na‭ ‬minha casa.‭ ‬No meu lar‭ ‬podia‭ ‬induzi-la a beber‭ ‬em‭ ‬todas as refeições.‭ ‬A‭ ‬depressão‭ ‬causada pelo desemprego também‭ ‬a‭ ‬ajudou se encharcar mais‭ ‬de álcool e pílulas.‭ ‬Foi um processo de alguns anos até ela começar a tremer a mão com a falta de álcool.‭ ‬Já eu nunca tinha estado tão bem no trabalho‭ ‬e na saúde:‭ ‬fodia‭ ‬todos os dias e‭ ‬quantas vezes eu quisesse‭ ‬com a minha carpa.‭ ‬Ah,‭ ‬e Joana não discutia,‭ ‬já estava ausente pela biritagem:‭  ‬só queria cachaça para ficar naquele estado‭ ‬quase‭ ‬catatônico que‭ ‬eu adorava.‭ ‬Joana‭ ‬ foi emagrecendo,‭ ‬ficando feia‭ ‬e não escovava os dentes.‭ ‬Eu não‭ ‬me importava,‭ ‬dizia que a amava‭ ‬e acho que não mentia de todo‭ ‬ao dizer isso,‭ ‬pois amava uma parte dela‭ ‬:‭ ‬as costas de pisciana.‭ ‬Nos‭  ‬rompantes de sobriedade Joana me achava muito bom‭ ‬e compreensivo.‭ 
Tudo ia bem até que,‭ ‬quando voltei‭ ‬do trabalho,‭ ‬descobri pelo meu vizinho que‭ ‬Joana tinha morrido num acidente de trânsito.‭ ‬Obviamente não com o‭ ‬nosso carro,‭ ‬não deixava ela dirigir faz tempo.‭ ‬Joana morreu atravessando‭ ‬o‭ ‬semáforo no vermelho.‭ ‬Fiquei desesperado:‭ ‬eu precisava ver o corpo‭ ‬e observar‭ ‬ se havia arranhado a‭ ‬minha carpa.‭ 
  Meu vizinho me levou de carro até o IML‏ ‎:‏ ‎eu chorava copiosamente‭ ‬,‭ ‬meu vizinho achava que era a perda de‭ ‬Joana,‭ ‬mas o meu‭  ‬choro era outro‭ ‬, rezava pelo menos ruim :  que o carro tivesse‭ ‬atropelado‭ ‬na barriga ou peito,‭ ‬mas não nas costas.‭ 
 Ao checar a‏ ‎gaveta do necrotério,‭ ‬encontrei‭ ‬Joana.‭ O‬ carro passou pelas costas e‭ ‬deixou completamente mutilado o meu peixe‭ ‬.‭ ‬Se fosse outra parte do corpo eu poderia dar um jeito:‭ ‬subornaria o‭ ‬funcionário e retiraria o talho de pele com minha carpa.‭ ‬Mas não,‭ ‬minha vida estava acabada‭ ‬e‭ ‬só‭ ‬restara algo inútil ali:‭  ‬Joana.‭ ‬Enterrei o corpo devidamente e não comi mais peixe,‭ ‬como qualquer tipo de renúncia em reverência ao tempo que fodi um peixe pela mulher. 



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