segunda-feira, 17 de junho de 2013

carta a um amor contemporâneo

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Um amor contemporâneo

Este tempo que no deita fora toda a sorte de privilégios do ócio , descanso e nos arregaça o coração com o exercício da ocupação. Este é o tempo que vivemos : um jogar-se tremendo sobre os projetos pessoais , mesmo sabendo que este se jogar seja indício de um tempo que nos cobra produtividade, maximização dos despertadores. E o que nós dá em troca? Como recompensa há a criação das parcas recreações ,entretempos ( sim, entretempo pois é considerado um hiato, um oco de tempo, o próprio o tempo se torna idêntico a produzir) para suprir as nossas faltas com aspectos diversos, como distração e por vezes cuidado de si.
Mas estes não são problemas de inteiro nossos, mas do século, pensamos. O que isto significa realmente ? Antes destas gerações afagadas pelo peso uma época que quer resultados , não havia ocupações? Ou não havia este sentimento velocidade que nos perdemos nos afazeres? Um autor do império romano nos diz o contrário. Este já rebate justamente as críticas do tempo que se esvai:

Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou (4) por nós sem que tivéssemos percebido ( SÊNECA, tranquilidade da alma)

O velho Sêneca, minah querida, já nos remetia a responsabilidade, mas ainda assim é um fardo demasiado grande. Ontem a vi correndo para algum lugar, reclamando de algo que havia de ser feito e , ainda assim, foi escolhido por você . Não sei bem o que fazer ou dizer : o problema, embora autores antigos nos façam prestar atenção ao que diz respeito à nossa parte ( isto é, o que escolhemos e como gastamos nossos dias) vêem o problema sob a ótica de condicionantes não materiais ou desconsiderando os ardis de distração que não havia na época passada ( o que é natural).
A única maneira infeliz de olhar esse mundo parece ser com uma atitude de desconfiança, reavaliação( uma leitura cartesiana em cima de um autor antigo talvez).Isso se quisermos pensar que sêneca ( enquanto atitude relativo ao tempo) está certo. Olhar cada vago instante com um pé atrás para assim assegurar o mínimo de perda; ou ainda , perder dois minutos desconfiando, para assim ganhar um. Para seguir o velho estoico /eclético seria preciso isso ( embora ele não prescreva esse método) e parece que assim, você e eu conseguiríamos em plenitude o que se almeja: sorver o tutano da vida no máximo possível enquanto se está numa sociedade degenerada por resultados que não visa o bem-estar (bem-estar como instância ou condição mínima para realização de qualquer homem).
Mas esta solução,embora boa , é uma faca de dois gumes ( como quase tudo), aceitar desconfiar de tudo e de todos é já uma dificuldade no que condiz ao outro ( ao amado no nosso caso); é perder aquele átimo de inesperado e que se disseca depois em pensamento: isto é, é dissecar o que ainda simplesmente não nos foi dado de todo. E não é isso o amor, a felicidade, a revelação pessoal do divino ( o que chamam o “ sentir na pele ” ou a experiência que “se banaliza com palavras” ) ? Aquele breve inefável instante onde tudo se desfaz e se revela ( dizem os místicos).
Dessa maneira me encontro ( nos encontramos )num dilema : pois de fato sêneca está certo , nosso amor entretanto não está errado. Poderia se seccionar essa desconfiança só para dadas áreas e isentar-nos de tal reflexão no amor : mas como? Nosso amor é no tempo. Tudo é no tempo. Precisa ser avaliado enquanto tal (se sêneca e a atitude de desconfiança estiver certa). É preciso que a quantifique numa medida de horas e veja se não é um esvair.Ou talvez precisemos pensar que todo o amor é um índice que participa da eternidade para se livrar de tal julgamento.
Mas isto é demais para o meu peito cético. Se assim for é melhor que o amor passe e se mostre como um engano : um enaltecimento de algo que me fez esbanjar horas, que me subtraiu vida , mas não me adicione um além, uma eternidade. Seria uma soma muito pesada para mim.
Bem, o fato de eu pensar o amor de tal modo já é um amor que trai a si mesmo, que desconfia a si mesmo. Este não é o amor .E se for só isso o amor no tempo  eu  não o quero. melhor não tê-lo.

E por isso devemos terminar.boa sorte.
6.05.2012

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