segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ovidianas ou livrinhos



eu era um homem normal até os 15 anos .tornei-me, de repente, em encontro com um livrinho de bolso de uma banca de jornal qualquer, ovidiano. Ah , toda a minha vida decerto tomou sentido. era bonita a vida . tinha propósito.
o trabalho não era mais trabalho, as folgas não eram mais folgas, eram exercício da minha ovidianeidade. conquistava mulheres e sabia conquistá-las. muni-me de Ovídio não menos como um pastor da bíblia. |Relia, aplicava, porém adaptava aos meus tempos . Assim tomou o destino do adolescente com aquele livrinho que dizia da arte de amar.
Ah, encontrei muitas experiências vagas, rápidas, sucessivas. encontrei-me com mulheres estalinistas , estudantes pós-modernas, eco-anarquistas e todas lindas com seu livrinho de bolso de banca de jornal que igualmente fizeram mudar vidas alheias. eu ,como um ovidiano, fazia o mesmo, embora não soubessem.
encontrei muitos parecidos comigo, só que não reconheciam. tinha amigos que diziam que eu devia viver sem a tutela de um livro e pensar comigo mesmo: sapere aude. mas quê , quando eu observava de perto, meu amigo havia lido isso de pensar consigo mesmo num livrinho de bolso de Kant . Outro, primo meu, dizia-me discursos de maneira triunfal , falando em jogos de valores, crítica à moral e principalmente que não queria seguidores. mas Quê !seguia igualmente um livrinho que encontrara em um sebo que era de Nietzsche. E assim achava pessoas geniais que escondiam onde leram aquilo proferiam ou encontrava figuras que defendiam tão bem seus livrinhos que pareciam advogados ou profetas.
Mas corria bem minha vida e o meu livrinho a ponto de chegar o tempo que sabia de cor o primeiro ao ultimo parágrafo dos verso de Ovídio. Encontrava seitas semelhantes ou afins: um amigo me indicara D. Juan de Moliére. gostei. Antes um exemplo ovidiano, não uma superação. e mantinha-me fiel ao meu livro e lia os outros como glosas ou esclarecimentos.
Até que me encontrei com uma especialista de Ovídio . como bom ovidiano, interessei-me por ela, mas cá bem ela não era ovidiana, uma analista somente . então apliquei-lhe perfeitamente o que manual ovidiano dizia para conquistar uma mulher, e assim foi que permaneci no seu amor e a deixei após um tempo. Aprovado estava: o método funcionava mesmo para alguém que conhecia seus truques. Enfim, eu antes seguidor do poeta por opção , agora me tornava a encarnação de sua poesia.
|Eis que tocava o cotidiano para frente. surgiu-me outra mulher. esta tinha um ódio ao gênero masculino. dizia-se seguidora do livrinho de bolso SCUM. Iria me provar a inferioridade do meu gênero e cá como boa estúpida tentou. Eu como bom ovidiano concordava-lhe para que assim facilita-se a conquista. Li o livrinho de bolso da vida dela, e cá bem impressionado com as bobagens não desisti: fazia-se de difícil, resistia, fazia que queria , mas hesitava. lembrei-me então da terceira parte do llivro da arte de amar . este dizia como uma mulher devia agir para conquistar um homem:
Visto a situação em que me encontrava, eu mais enredado por ela do que o contrário, percebi que ela era ovidiana:sabia perfeitamente o que fazer, sem nunca ter lido ovídio e ainda acreditando em outra coisa diversa. observado isto desisti completamente dos livrinhos de bolso: tal qual como um católico que acredita na salvação pelas obras e descobre que a salvação só é pela graça, vi anos de esforço para fazer da minha vida a própria poesia de Ovídio se tornarem nulas frente a uma mulher naturalmente ovidiana. todo esforço em vão. todo modo de ser no equívoco e no não saber. larguei os livrinhos de bolso, tentarei tutoriais e arquivos em PDF.
24.09.2011

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