eu
era um homem normal até os 15 anos .tornei-me, de repente, em encontro
com um livrinho de bolso de uma banca de jornal qualquer, ovidiano. Ah ,
toda a minha vida decerto tomou sentido. era bonita a vida . tinha
propósito.
o trabalho não era mais
trabalho, as folgas não eram mais folgas, eram exercício da minha
ovidianeidade. conquistava mulheres e sabia conquistá-las. muni-me de
Ovídio não menos como um pastor da bíblia. |Relia, aplicava, porém
adaptava aos meus tempos . Assim tomou o destino do adolescente com
aquele livrinho que dizia da arte de amar.
Ah,
encontrei muitas experiências vagas, rápidas, sucessivas. encontrei-me
com mulheres estalinistas , estudantes pós-modernas, eco-anarquistas e
todas lindas com seu livrinho de bolso de banca de jornal que igualmente
fizeram mudar vidas alheias. eu ,como um ovidiano, fazia o mesmo,
embora não soubessem.
encontrei
muitos parecidos comigo, só que não reconheciam. tinha amigos que
diziam que eu devia viver sem a tutela de um livro e pensar comigo
mesmo: sapere aude. mas quê , quando eu observava de perto, meu amigo
havia lido isso de pensar consigo mesmo num livrinho de bolso de Kant .
Outro, primo meu, dizia-me discursos de maneira triunfal , falando em
jogos de valores, crítica à moral e principalmente que não queria
seguidores. mas Quê !seguia igualmente um livrinho que encontrara em um
sebo que era de Nietzsche. E assim achava pessoas geniais que escondiam
onde leram aquilo proferiam ou encontrava figuras que defendiam tão bem
seus livrinhos que pareciam advogados ou profetas.
Mas
corria bem minha vida e o meu livrinho a ponto de chegar o tempo que
sabia de cor o primeiro ao ultimo parágrafo dos verso de Ovídio.
Encontrava seitas semelhantes ou afins: um amigo me indicara D. Juan de
Moliére. gostei. Antes um exemplo ovidiano, não uma superação. e
mantinha-me fiel ao meu livro e lia os outros como glosas ou
esclarecimentos.
Até
que me encontrei com uma especialista de Ovídio . como bom ovidiano,
interessei-me por ela, mas cá bem ela não era ovidiana, uma analista
somente . então apliquei-lhe perfeitamente o que manual ovidiano dizia
para conquistar uma mulher, e assim foi que permaneci no seu amor e a
deixei após um tempo. Aprovado estava: o método funcionava mesmo para
alguém que conhecia seus truques. Enfim, eu antes seguidor do poeta por
opção , agora me tornava a encarnação de sua poesia.
|Eis
que tocava o cotidiano para frente. surgiu-me outra mulher. esta tinha
um ódio ao gênero masculino. dizia-se seguidora do livrinho de bolso
SCUM. Iria me provar a inferioridade do meu gênero e cá como boa
estúpida tentou. Eu como bom ovidiano concordava-lhe para que assim
facilita-se a conquista. Li o livrinho de bolso da vida dela, e cá bem
impressionado com as bobagens não desisti: fazia-se de difícil,
resistia, fazia que queria , mas hesitava. lembrei-me então da terceira
parte do llivro da arte de amar . este dizia como uma mulher devia agir
para conquistar um homem:
Visto
a situação em que me encontrava, eu mais enredado por ela do que o
contrário, percebi que ela era ovidiana:sabia perfeitamente o que fazer,
sem nunca ter lido ovídio e ainda acreditando em outra coisa diversa.
observado isto desisti completamente dos livrinhos de bolso: tal qual
como um católico que acredita na salvação pelas obras e descobre que a
salvação só é pela graça, vi anos de esforço para fazer da minha vida a
própria poesia de Ovídio se tornarem nulas frente a uma mulher
naturalmente ovidiana. todo esforço em vão. todo modo de ser no equívoco
e no não saber. larguei os livrinhos de bolso, tentarei tutoriais e
arquivos em PDF.
24.09.2011
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